quarta-feira, 30 de novembro de 2011

"achados e perdidos"




- Boa tarde, em que posso ajudar?
- Bem, eu acho que eu perdi uma coisa, mas não sei bem ao certo o que é
- O que a senhora quer dizer?
- Eu perdi, na verdade acho que roubaram, mas não me lembro ao certo como é fisicamente, só lembro que doeu, doeu muito.
- Quando roubaram?
- É, acho que me deram na verdade, porque eu não me lembro de ter isso antes, e depois roubaram.
- Mas a senhora nem se lembra de como era?
- Já disse que não, só lembro da dor. Ah é, quando o ganhei ele se encheu, parecia estar mais colorido, mais forte, depois ele foi roubado e partido... e doeu. Muito. Nunca senti nada assim antes, por isso não sei o que é.
- Tente se lembrar, porque desse jeito não posso te ajudar.
- Mas aqui é um “Achados e Perdidos” não é?
- Sim, mas você tem que saber o que perdeu para poder encontrá-lo
- Tudo bem, obrigada. Ah, me lembrei, é algo como colchão.. não, coração! É esse o nome, coração!
- Desculpa, está no lugar errado então, não podemos te devolver seu coração.
- Tudo bem, aliás, acho que não o quero mais.
- Porque senhora, se procurou tanto por ele?
- Melhor não sentir do que sofrer aquela dor de novo...

- Ana Luíza Marcondes

pensamentos perdidos,




Preciso de um tempo pra pensar. Mas pensar em tudo, não só o que está acontecendo agora. Pensar no ontem, no hoje, no amanhã, no depois. Pensar em todos os porquês, em todas as razões e todas as causas e conseqüências. Pensar em nós dois, em mim mesma, nas amizades, nos colegas, nas atitudes, nos sentimentos. Pensar sobre a simples gota que cai lá fora, fazendo um barulho gostoso sob a poça d’água formada no meio fio.
Pensar em tudo, em qualquer coisa, em nada. Tirar minha mente do meio dessa guerra e desses conflitos incessáveis.
Preciso de um tempo pra mim, pra tentar acalmar minha mente e minha alma.
Só pensar, mais nada.

- Ana Luíza Marcondes

inconstâncias.


Hoje foi um péssimo dia. Ou talvez bom até demais. Depende de onde, e o que você quer ver.
Péssimo porque eu me fechei totalmente, queria ficar sozinha, sem ninguém falando comigo. E realmente, ninguém falou, nem ao menos se esforçou para saber por que eu estava assim. Péssimo também porque minha cabeça queria explodir e meus olhos imploravam para transbordar. E foi por pouco que suas vontades não vieram à tona.
Ótimo porque eu pude perceber que a gente se vira sozinha quando é necessário. Pude perceber também quem são meus verdadeiros amigos, ou melhor, aqueles que não são. Observei os interesses, as mentiras, os sentimentos. Ótimo porque eu tive tempo pra pensar, ouvir a mim mesma, organizar minha mente, procurar inspirações e descobrir minhas aspirações.
Pensei seriamente em desistir de tudo, quer dizer, não do meu objetivo agora, mas de todas as amizades falsas, sentimentos idiotas, interesses fúteis, pensamentos infantis e atitudes desprezíveis que estão ao meu redor. Não que eu não tenha pensamentos infantis e coisas do tipo algumas vezes, só que o que eu pude perceber é exagero, não são atos casuais, e sim rotina; viver errônea e futilmente uma rotina tosca e totalmente fútil.  Pensei também em mudar, em tentar me encaixar nesse lugar que não faz parte dos meus ideais, do meu jeito e das minhas aspirações e inconstâncias.
Foi quando eu percebi, dentro da escuridão total, um único ponto de luz, isolado, solitário e  praticamente invisível. Um mundo de sonhos em uma coisa só, uma coisa pequena, que quase ninguém vê valor. Mas eu vi, e foi isso que me deu forças para lutar e continuar, do meu jeito é claro.
Então me levantei e fui atrás daquilo que eu queria, da minha meta do momento. E vi que minha meta agora é ser eu mesma, chega de máscaras idiotas, de farsas imbecis e tentativas  frustradas de agradar a todo mundo. Eu só preciso agradar a MIM. Não devo satisfação pra ninguém  aqui, não prometi nada e muito menos disse que me arriscaria.
Agora não é mais “se quer corre atrás”, e sim “se quer, volte atrás e procure entender”.
Errar é humano, fazes os outros sofrer não.

- Ana Luíza Marcondes

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

fugindo dos padrões desde sempre




Não cresci brincando de boneca, andando com os sapatos de salto da minha mãe nem usando maquiagem.
Não gostava de contos de fadas do tipo “a princesa encontra o príncipe encantado”, não usava vestidos, não brincava de fazer chá para as madames.
Acho que eu era rebelde desde criança.
Adora brincar de lutinha, soltar pipa, correr no meio do mato, escorregar na lama. Brincava de carrinho, cavalinho, assistia Pokémon, Power rangers...
Só lia A Dama e o Vagabundo, preferia brincar de fazer bolinho de lama pra servir pros super-heróis, trocava todas minhas bonecas por tazos,era campeã de bolinha do gude.
Jogava bola, nadava no ribeirão, me sujava sem medo, pulava cercas, caia em brejos...
Eu era uma menina vivendo a vida de um garotinho.
Alguns podem dizer que eu fui uma criança rebelde, mas eu sei minha infância foi realmente maravilhosa.

- Ana Luíza Marcondes

— Café?
— O que?
— Café.
— Morno? 
— Escaldante, por favor.
— Fraco?
— Forte, potencialmente.
— Você tem um gosto meio estranho para uma menina tão nova.
— Já me disseram. Amargo.
— O que disse?
— Quero amargo, também.
— Você gosta assim?
— É pra dar aquela chacoalhada no estômago. Ver se o amargo acaba adocicando a vida; ver se a escaldação esquenta toda essa frieza.
—  Sinto rancor aí.
— Sorte sua, moço.
— Por que sorte?
— Pelo menos você sente alguma coisa.
— E você não? Nada?
— Sinto frio, agora.
— Só?
— É, acho que sim.
— Posso lhe oferecer um casaco?
— Não, obrigada.
— Gosta do frio?
— O problema não é o clima.
— E qual é, então?
— Sou eu, moço.
(samesshit)


"Assim como protegemos nossa felicidade, temos também que proteger nossa infelicidade. Não há nada mais desgastante do que uma alegria forçada. Se você está infeliz, recolha-se, não suba ao palco. Disfarçar a dor é dor ainda maior."
- Martha Medeiros


"Um telefone ao alcance da mão, um número decorado na cabeça e uma aflição no coração.
É aí que mora o perigo..."

-Martha Medeiros

strongest;


Passo por você sabendo que devia dizer alguma coisa, tomar alguma atitude ou simplesmente pedir perdão. Eu sei que você me olha pelo canto do olho assim como eu sempre fiz. Nossos olhares tímidos e amedrontados se cruzam por um segundo, até que eu desvio o olhar.
Te encontro enquanto caminho normalmente, seguindo meu roteiro de todos os dias.
Eu sei que deveria ao menos sorrir, pra tentar quebrar o gelo daquele simples “tudo bem com você?” mas eu não consigo, simplesmente não dá. Meu medo me domina, e meus lábios se curvam pouquíssimo por fora, enquanto borboletas, gaivotas e andorinhas remexem meu estômago.
Eu queria sorrir, queria te abraçar, queria falar mais com você, queria pedir perdão, desentupir minha garganta de todas as palavras não ditas. Minhas cordas vocais tremem, meus pés parecem flutuar, meu estomago se revira na festa dos pássaros, meu cérebro impulsiona meu corpo, minha alma te chama, minhas bochechas imploram um sorriso. Mas nada sai, nada. Absolutamente nada.
Entenda, não é minha culpa, é que eu tenho medo.
Não me pergunte do que, mas eu tenho.

- Ana Luíza Marcondes